12 novembro 2009
08 novembro 2009
Ela tomava pílulas contraceptivas há quatro anos, embora ainda fosse virgem - Recomendação de seu médico para regular o ciclo menstrual. Também regularmente se dirigia ao laboratório mais próximo para fazer exame de HIV - Recomendação das campanhas contra doenças sexualmente transmissíveis, as quais o Brasil investe assiduamente. Afinal, é quase monofônica a afirmativa de que é melhor prevenir do que remediar. Ela tinha medo. Medo de engravidar mesmo sem nunca ter sido penetrada. Aliás, o medo era uma das poucas coisas que conseguiu penetrar naquele corpo enclausurado – era a gravidez dela. Fora o medo, as pílulas. A gestão de si.
Coitada, dizia o professor de sociologia. Ele falava sobre o interesse político, social, econômico dessa cultura do medo. Ele falava das inúmeras indústrias que mercantilizam a vida e da lógica do terror, geradora de lucros imensuráveis. Falava sobre panópticos, sobre as formas de controle, sobre Biopolítica, sobre psicofarmacologia. Enchia a boca de retórica salivosa para falar de Agamben. O citava com um sotaque toscamente italiano. Ele citava. Ela não se excitava.
– Calma, professor, é minha primeira vez.
– A indústria do corpo.
– Preciso da pomada lubrificante, tá dentro da nécessaire.
– A indústria do sexo.
– A camisinha, professor, a camisinha.
– As normatizações.
– Professor, seu pau está mole?
– Meu Viagra, onde está meu Viagra?
A buceta seca por conta das pílulas. A buceta empapada de tanto KY. O pau mole pela falta de Viagra. Pílula do dia seguinte, mesmo sem terem transado.
– Foi bom para você?
– Não estou conseguindo dormir, professor.
– No bolso da esquerda tem uma cartela de Rivotril.
– Boa noite.
Yuri Firmeza
31 de Outubro de 2009.
Coitada, dizia o professor de sociologia. Ele falava sobre o interesse político, social, econômico dessa cultura do medo. Ele falava das inúmeras indústrias que mercantilizam a vida e da lógica do terror, geradora de lucros imensuráveis. Falava sobre panópticos, sobre as formas de controle, sobre Biopolítica, sobre psicofarmacologia. Enchia a boca de retórica salivosa para falar de Agamben. O citava com um sotaque toscamente italiano. Ele citava. Ela não se excitava.
– Calma, professor, é minha primeira vez.
– A indústria do corpo.
– Preciso da pomada lubrificante, tá dentro da nécessaire.
– A indústria do sexo.
– A camisinha, professor, a camisinha.
– As normatizações.
– Professor, seu pau está mole?
– Meu Viagra, onde está meu Viagra?
A buceta seca por conta das pílulas. A buceta empapada de tanto KY. O pau mole pela falta de Viagra. Pílula do dia seguinte, mesmo sem terem transado.
– Foi bom para você?
– Não estou conseguindo dormir, professor.
– No bolso da esquerda tem uma cartela de Rivotril.
– Boa noite.
Yuri Firmeza
31 de Outubro de 2009.
Yuri Firmeza
Buscamos artistas contemporâneos que pudessem transmitir ou fazer referência à arte do absurdo e encontramos o artista plástico Yuri Firmeza, que utiliza seu corpo para a execução de suas performances, utilizando o nu de forma extravagante e irônica. Fizemos contato com ele e conseguimos obter um posicionamento do próprio artista quanto à sua arte, da qual se explica no fragmento a seguir:
“Meus trabalhos-posicionamentos são ativações de estados desvitalizados
pelas políticas do corpo que nos trespassam a todo momento. É contra isso que eu
me posiciono. E é a favor da vida que eu luto. Vida vivida e não sobrevivida.
Meu trabalho é a tentativa de me arrancar e arrancar os que os experimenta da
letargia, da condição de zumbis, da anestesia imperante. Eu não gostaria de
escrever um texto explicativo sobre meus trabalhos. Acho que o texto tem que ser
tão inventivo quanto a própria obra e não pode se limitar em explicar, refletir,
decifrar o meu trabalho. Ainda mais com a proposta do absurdo. Acho que o texto
que escrevi fala de meus trabalhos-pensamento do começo ao fim, sem precisar ser
descritivo, analítico.”
Artistas que participam da Bienal
Absurdo
(Artistas)
Alejandra Seeber (Argentina)
Cabelo (Brasil)
Débora Bolsoni (Brasil)
Francisco de Almeida (Brasil)
Gilberto Esparza (México)
Marcellvs L. (Brasil)
Márcia X e Ricardo Ventura (Brasil)
Niles Atallah (Chile), Joaquín Cociña (Chile) e Cristóbal Léon (Chile)
Nina Lola Bachhuber (Alemanha)
Romano (Brasil)
Alejandra Seeber (Argentina)
Cabelo (Brasil)
Débora Bolsoni (Brasil)
Francisco de Almeida (Brasil)
Gilberto Esparza (México)
Marcellvs L. (Brasil)
Márcia X e Ricardo Ventura (Brasil)
Niles Atallah (Chile), Joaquín Cociña (Chile) e Cristóbal Léon (Chile)
Nina Lola Bachhuber (Alemanha)
Romano (Brasil)
7ª Bienal em Porto Alegre, sobre o Absurdo
Esta exposição opera sobre a estranheza e a idéia de instabilidade. Este sentido de instabilidade é uma espécie de moto contínuo histórico que alimenta a própria transição histórica na arte, sem encerrá-la em um único propósito, pelo contrário, desmistifica uma só linguagem, criando um novo lugar ou um outro lugar para o que está por vir ou o que nem foi ainda decodificado.
Cada artista convidado da mostra aceitou pensar a instabilidade como fato e como metáfora. Real ou ficcional, o outro lugar, inominado, aparece como convite à transferência física para uma nova perspectiva. O espectador desta mostra será convidado a entregar-se ao percurso de um 'outro' a conhecer. Nem sempre o terreno que encontrará é solido e familiar. Absurdo propõe a alteração do espaço reconhecível de exposição, criando uma metáfora que atrairá o público a pensar sobre os limites formais de mostras de arte.
Outras quatro exposições destacam aspectos pontuais dos processos artísticos:
Cada artista convidado da mostra aceitou pensar a instabilidade como fato e como metáfora. Real ou ficcional, o outro lugar, inominado, aparece como convite à transferência física para uma nova perspectiva. O espectador desta mostra será convidado a entregar-se ao percurso de um 'outro' a conhecer. Nem sempre o terreno que encontrará é solido e familiar. Absurdo propõe a alteração do espaço reconhecível de exposição, criando uma metáfora que atrairá o público a pensar sobre os limites formais de mostras de arte.
Outras quatro exposições destacam aspectos pontuais dos processos artísticos:
• A cidade entendida como um “texto público”: inserção e irradiação
• A transformação
• O projeto e a projeção
• O desenho como espaço de tradução do pensamento artístico
Contemporâneo?
A arte do absurdo contemporânea é aquela que estimula as sensações e faz com que o público tenha uma percepção diferente do comum. A arte deve ir além do que está imposto como moda ou padrão. Deve fugir dos clichês, exercitando mais sua criatividade. Ela precisa revelar suas forças e potências estéticas. Precisa chocar seu público, causar frisson, surpreendê-lo, estimular o pensamento, não deixar o público indiferente. Porém o conceito de absurdo varia de pessoa para pessoa, dependendo da aceitação, entrosamento e entendimento do público para com a arte. Por tudo isso, a arte do absurdo contemporânea deve proporcionar uma maior interatividade entre artista, obra e público.
A Metamorfose
"-E agora?, perguntou Gregor a si
mesmo, relanceando os olhos pela escuridão. Não tardou em descobrir que não
podia mexer as pernas. Isto não o surpreendeu, pois o que achava pouco natural
era que alguma vez tivesse sido capaz de agüentar-se em cima daquelas frágeis
perninhas. Tirando isso, sentia-se relativamente bem. É certo que lhe doía o
corpo todo, mas parecia-lhe que a dor estava a diminuir e que em breve
desapareceria. A maçã podre e a zona inflamada do dorso em torno dela quase não
o incomodavam. Pensou na família com ternura e amor. A sua decisão de partir
era, se possível, ainda mais firme do que a da irmã. Deixou-se ficar naquele
estado de vaga e calma meditação até o relógio da torre bater as três da manhã.
Uma vez mais, os primeiros alvores do mundo que havia para além da janela
penetraram-lhe a consciência. Depois, a cabeça pendeu-lhe inevitavelmente para o
chão e de suas narinas saiu um último e débil suspiro."
Kafka
Não é possível abrir a janela do século XX e não ver o escritor tcheco, Franz Kafka. Este fabuloso escritor teve sua literatura rejeitada por ser pouco compreendida em seu tempo; atingiu o auge do reconhecimento após sua morte em 1924 com as publicações póstumas.
O mal-estar caracteriza boa parte de sua produção artística; personagens que não se encontram no ambiente “natural” criam nos leitores Kafkianos o ofegante respirar de um ar carregado de absurdos sociais.
O mal-estar caracteriza boa parte de sua produção artística; personagens que não se encontram no ambiente “natural” criam nos leitores Kafkianos o ofegante respirar de um ar carregado de absurdos sociais.
Como é
no silêncio mais profundo que se segue à canção de Pim finalmente vasta extensão de tempo um tique-taque distante escuto um bom momento eles são bons momentos
minha mão direita parte ao longo do seu braço direito alcança com dificuldade seu limite e além pontas com pontas dos dedos uma pulseira de relógio ao tato é como eu pensava ela teria seu papel de relógio ao tato é como eu pensava ela teria seu papel a representar sim ouço sim então não
Teatro do Absurdo (em Beckett)
O Teatro do Absurdo nasceu do Surrealismo, que foi um movimento de vanguarda "filho" do Dadá. Por isso houve uma postagem anterior a esta, só para clarear. O termo "Teatro do Absurdo" possui um drama existencial, e tenta retratar de forma inusitada a realidade na qual a sociedade está submergida, apontando os preceitos e valores morais da mesma como principal motor da crise social. Os diálogos e o enredo focam no ilógico e na condição impotente do humano.
O criador do termo foi o crítico austríaco Martin Esslin que publicou um livro com o título "Teatro do Absurdo" para citar dramaturgos que fossem diferentes no tratamento incomum da realidade.
Um dos autores mais relevantes do Teatro do Absurdo foi Samuel Beckett, autor do famoso Esperando Godot, em que dois amigos esperam por uma presença que nunca chega, num ambiente inóspito, onde tudo se repete viciosamente, demonstrando a impotência das personagens. Outra peça importante é Fim de Partida, na qual ocorre um diálogo entre um homem cego e decrépito com o seu serviçal coxo e ocasionalmente aparecem os pais do primeiro, que vivem em latas de lixo. As quatro personagens dividem um abrigo, isolados.
O criador do termo foi o crítico austríaco Martin Esslin que publicou um livro com o título "Teatro do Absurdo" para citar dramaturgos que fossem diferentes no tratamento incomum da realidade.
Um dos autores mais relevantes do Teatro do Absurdo foi Samuel Beckett, autor do famoso Esperando Godot, em que dois amigos esperam por uma presença que nunca chega, num ambiente inóspito, onde tudo se repete viciosamente, demonstrando a impotência das personagens. Outra peça importante é Fim de Partida, na qual ocorre um diálogo entre um homem cego e decrépito com o seu serviçal coxo e ocasionalmente aparecem os pais do primeiro, que vivem em latas de lixo. As quatro personagens dividem um abrigo, isolados.
Fatos surreais
O Surrealismo foi uma vangarda modernista dos anos 1920 que surgiu a partir do Dadaísmo. Os membros fundadores deste movimento se "fragmentaram" para dar início num outro movimento que acreditava que a arte devesse se abster da razão e da lógica e ir além do consciente, expressando o inconsciente e o onirismo.
Manifesto
"Eu redijo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e sou por princípios contra manifestos (...). Eu redijo este manifesto para mostrar que é possível fazer as ações opostas simultaneamente, numa única fresca respiração; sou contra a ação pela contínua contradição, pela afirmação também, eu não sou nem para nem contra e não explico por que odeio o bom-senso."
Tristan Tzara
Tristan Tzara
04 novembro 2009
Introduzir o Dadá
A concepção do absurdo, para além dos preceitos da antiguidade, surgiu com maior veemência a partir de um contexto no qual os homens, ambiciosamente, no punho levavam as armas e na cabeça a desrazão. As guerras em si mesmas eram o verdadeiro absurdo da humanidade, a fé perdera o seu propósito. Percebe-se que a idéia do absurdo é potencializada após os conflitos mundiais.
O Absurdo, assim como o Dadaísmo, promoveu a revolução na linguagem e na ideologia da sociedade, obtendo muitas críticas de um público que, apesar de proletário, consumia o idealismo burguês da época.
Dadaísmo
O dadaísmo possui um forte caráter anti-racional e surgiu na Europa após a Primeira Guerra Mundial, em 1916. Tinha o objetivo de destruir os valores culturais do ocidente na época. Foi um movimento assumidamente contrário à guerra, e o termo em si não possui um significado, pois adere ao ilógico e absurdo. Paradoxalmente, o movimento tinha a sua lógica em persistir, e o intuito era chocar e escandalizar com a falta de sentido.
Um dos fundadores do movimento foi o romeno Tristan Tzara.
Eu estou só
Eu falo de quem fala de quem fala que estou só
Eu sou apenas um pequeno ruído eu tenho vários em mim
Um ruído amassado gelado na intersecção das ruas
despejado no pavimento húmido aos pés dos homens
precipitados correndo com as suas mortes
À volta da morte que estende os seus braços
Sobre o relógio sozinho respirando ao sol.
(Tristan Tzara, in L'Homme approximatif)
Via
qual é este caminho que nos separa
através do qual eu retenho a mão do pensamento
uma flor está escrita ao final de cada dedo
e o final do caminho é uma flor que caminha contigo.
(Tristan Tzara)
Muitas pessoas não entendem a definição de “dadaísmo”, ou “dadá”, mas a realidade é que o termo em si significa nada. Nada mesmo. Ou, para quem preferir, dadá significa "cavalo de brinquedo", em francês.
Jovens europeus criaram um movimento de negação dos valores que eram tradicionais. Pode-se dizer isto porque a Europa estava em estado caótico e nada podia resolver a situação, as pessoas estavam decepcionadas. As características do dadaísmo são: crítica à sociedade, à política; o pessimismo exacerbado, utilizando excessivamente do absurdo.
Daí em diante, muitos aderiram ao dadaísmo, como por exemplo Duchamp, Hugo Ball, o famoso alemão Richard Hülsembeck, entre outros. Infelizmente este movimento durou pouco, até porque em 1923, devido à desavenças, o dadaísmo começa a se fragmentar e surge o surrealismo, que é outra história...
O Absurdo, assim como o Dadaísmo, promoveu a revolução na linguagem e na ideologia da sociedade, obtendo muitas críticas de um público que, apesar de proletário, consumia o idealismo burguês da época.
Dadaísmo
O dadaísmo possui um forte caráter anti-racional e surgiu na Europa após a Primeira Guerra Mundial, em 1916. Tinha o objetivo de destruir os valores culturais do ocidente na época. Foi um movimento assumidamente contrário à guerra, e o termo em si não possui um significado, pois adere ao ilógico e absurdo. Paradoxalmente, o movimento tinha a sua lógica em persistir, e o intuito era chocar e escandalizar com a falta de sentido.
Um dos fundadores do movimento foi o romeno Tristan Tzara.
Eu estou só
Eu falo de quem fala de quem fala que estou só
Eu sou apenas um pequeno ruído eu tenho vários em mim
Um ruído amassado gelado na intersecção das ruas
despejado no pavimento húmido aos pés dos homens
precipitados correndo com as suas mortes
À volta da morte que estende os seus braços
Sobre o relógio sozinho respirando ao sol.
(Tristan Tzara, in L'Homme approximatif)
Via
qual é este caminho que nos separa
através do qual eu retenho a mão do pensamento
uma flor está escrita ao final de cada dedo
e o final do caminho é uma flor que caminha contigo.
(Tristan Tzara)
Muitas pessoas não entendem a definição de “dadaísmo”, ou “dadá”, mas a realidade é que o termo em si significa nada. Nada mesmo. Ou, para quem preferir, dadá significa "cavalo de brinquedo", em francês.
Jovens europeus criaram um movimento de negação dos valores que eram tradicionais. Pode-se dizer isto porque a Europa estava em estado caótico e nada podia resolver a situação, as pessoas estavam decepcionadas. As características do dadaísmo são: crítica à sociedade, à política; o pessimismo exacerbado, utilizando excessivamente do absurdo.
Daí em diante, muitos aderiram ao dadaísmo, como por exemplo Duchamp, Hugo Ball, o famoso alemão Richard Hülsembeck, entre outros. Infelizmente este movimento durou pouco, até porque em 1923, devido à desavenças, o dadaísmo começa a se fragmentar e surge o surrealismo, que é outra história...
03 novembro 2009
Início
Buscando referências da palavra absurdo, que é um empréstimo do adjetivo latino absurdus e significa “desagradável aos ouvidos”, derivado de surdus, “surdo”, que representa o “incompreensível”, o termo em si mesmo possui uma significação, por mais absurdo que pareça, pois a sua essência inseriu-se em conceitos do pensamento humano, como na Lógica e nas Artes em geral.
Em dicionários, “absurdo” significa o que foge à razão, a insensatez. Sem muita divagação, este blog visa abordar o tema do absurdo nas artes ocidentais, citando algumas mentes que contribuíram com a paradoxal "lógica" do absurdo.
Em dicionários, “absurdo” significa o que foge à razão, a insensatez. Sem muita divagação, este blog visa abordar o tema do absurdo nas artes ocidentais, citando algumas mentes que contribuíram com a paradoxal "lógica" do absurdo.
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