08 novembro 2009

Ela tomava pílulas contraceptivas há quatro anos, embora ainda fosse virgem - Recomendação de seu médico para regular o ciclo menstrual. Também regularmente se dirigia ao laboratório mais próximo para fazer exame de HIV - Recomendação das campanhas contra doenças sexualmente transmissíveis, as quais o Brasil investe assiduamente. Afinal, é quase monofônica a afirmativa de que é melhor prevenir do que remediar. Ela tinha medo. Medo de engravidar mesmo sem nunca ter sido penetrada. Aliás, o medo era uma das poucas coisas que conseguiu penetrar naquele corpo enclausurado – era a gravidez dela. Fora o medo, as pílulas. A gestão de si.
Coitada, dizia o professor de sociologia. Ele falava sobre o interesse político, social, econômico dessa cultura do medo. Ele falava das inúmeras indústrias que mercantilizam a vida e da lógica do terror, geradora de lucros imensuráveis. Falava sobre panópticos, sobre as formas de controle, sobre Biopolítica, sobre psicofarmacologia. Enchia a boca de retórica salivosa para falar de Agamben. O citava com um sotaque toscamente italiano. Ele citava. Ela não se excitava.
– Calma, professor, é minha primeira vez.
– A indústria do corpo.
– Preciso da pomada lubrificante, tá dentro da nécessaire.
– A indústria do sexo.
– A camisinha, professor, a camisinha.
– As normatizações.
– Professor, seu pau está mole?
– Meu Viagra, onde está meu Viagra?
A buceta seca por conta das pílulas. A buceta empapada de tanto KY. O pau mole pela falta de Viagra. Pílula do dia seguinte, mesmo sem terem transado.
– Foi bom para você?
– Não estou conseguindo dormir, professor.
– No bolso da esquerda tem uma cartela de Rivotril.
– Boa noite.


Yuri Firmeza
31 de Outubro de 2009.

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