08 novembro 2009

A Metamorfose

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E agora?, perguntou Gregor a si
mesmo, relanceando os olhos pela escuridão. Não tardou em descobrir que não
podia mexer as pernas. Isto não o surpreendeu, pois o que achava pouco natural
era que alguma vez tivesse sido capaz de agüentar-se em cima daquelas frágeis
perninhas. Tirando isso, sentia-se relativamente bem. É certo que lhe doía o
corpo todo, mas parecia-lhe que a dor estava a diminuir e que em breve
desapareceria. A maçã podre e a zona inflamada do dorso em torno dela quase não
o incomodavam. Pensou na família com ternura e amor. A sua decisão de partir
era, se possível, ainda mais firme do que a da irmã. Deixou-se ficar naquele
estado de vaga e calma meditação até o relógio da torre bater as três da manhã.
Uma vez mais, os primeiros alvores do mundo que havia para além da janela
penetraram-lhe a consciência. Depois, a cabeça pendeu-lhe inevitavelmente para o
chão e de suas narinas saiu um último e débil suspiro
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